27.11.06

O supérfluo e o fundamental

Para o Mestre Houaiss, na versão do seu Dicionário Eletrônico, o supérfluo
é aquilo que ultrapassa a necessidade, que é mais do que se necessita. O
que é redundante ou desnecessário. Observando atentamente as páginas centrais
da edição de 29 de novembro da REVISTA CARTACAPITAL, com a reprodução das
capas de três, das principais revistas semanais de circulação nacional, no
período de 19 a 25 de novembro de 2006, deparo-me com a inevitável pergunta:
o que é supérfluo e o que é fundamental? Istoé, Época e Veja, privilegiaram
suas edições publicando, quase como reprodução fiel, a fotografia da modelo
Ana Carolina Reston, morta por anorexia. Que critérios foram levados em conta
pelas editorias das três revistas para a seleção da foto das capas? Seria
de fato, uma reportagem de caráter essencial e determinante para o leitor
das revistas? Não teria havido exagero nas reportagens, na ansiedade jornalística
de noticiar a morte de uma modelo famosa, enfatizando o seu aspecto glamoroso?

Sinvaldo do Nascimento Souza
Santa Cruz, Rio de Janeiro, RJ

A revitalização da Fonte Wallace de Santa Cruz

Leio no JORNAL DO BRASIL, de 22 de novembro de 2006, na coluna Coisas do Rio, de Fred Suter, que o colega parisiense do prefeito Cesar Maia, enviou carta propondo a renovação do acordo para cooperação técnica e equilíbrio socioeconômico do bairro de São Cristóvão.

Não é de hoje que o prefeito do Rio vem promovendo o estreitamento nas relações da nossa cidade com a capital francesa, o que é muito bom.

A influência da França na cultura brasileira vem sendo estudada há muito tempo. As relações históricas existem desde o período colonial, conforme atesta o embaixador Vasco Mariz, em livro tratando do tema, editado recentemente pela Biblioteca do Exército Editora.

A Missão Artística Francesa, de 1816, e a Missão Militar, dos anos 20 e 30 do século XX, foram dois marcos históricos evidentes da cooperação dos franceses, que ainda hoje legitimam as vantagens na reciprocidade das relações entre Brasil e França.

Além das duas missões citadas, ambas com duração de décadas, há inúmeros casos de iniciativas isoladas, que também contribuíram para o fortalecimento da amizade entre os dois países.

Refiro-me, de forma específica, à instalação, no Rio de Janeiro, das famosas fontes fundidas em Val d?Osne, por encomenda de Richard Wallace.

Wallace, que morreu em Paris em 1890, tornou-se conhecido por sua paixão pela capital francesa e pelo seu comportamento altruístico, ao mandar fundir e doar diversas fontes que hoje se encontram espalhadas pelo mundo.

O inglês, que chegou a ser homenageado com o título de Sir, legou para a humanidade, além das fontes conhecidas como Wallace, um precioso acervo de obras de artes que hoje se encontram em Hortford House, de Londres.

Das fontes Wallace que vieram para o Brasil, oriundas do berço da fundição artística francesa do Vale d?Osne, a mais conhecida é mesmo a de Santa Cruz, embora ainda exista uma outra no Jardim dos Manacás, na Floresta da Tijuca, segundo informações que retiro do texto do catálogo ?Fontes d?Art: Estátuas e chafarizes franceses no Rio de Janeiro?.

Fundida a partir da concepção artística de Charles Lebourg, a fonte Wallace tinha como objetivo principal fornecer à cidade, água potável corrente, integrando-se à paisagem urbana, como ainda é o caso dos exemplares existentes nos Estados Unidos, na Suíça e nos bairros de Paris, onde a prefeitura de lá, encomenda esporadicamente à fundição artística GHM, a reposição de peças desaparecidas, visando perpetuar a fabricação.

O primeiro convênio assinado em 10 de abril de 1994, entre a Fundação Parques e Jardins (FPJ), da Prefeitura da Cidade, com a Association pour la Sauvegarde et la Promotion du Patrimoine Métallurgique Haut-Marnais (ASPM), foi um importante passo para o resgate do passado e formação de uma memória coletiva de preservação do patrimônio cultural, que, como todos sabemos, depende da conscientização da sociedade.

A proposta do prefeito parisiense Bertrand Delande, e a boa vontade que o cônsul-geral da França no Rio de Janeiro, Hugues Goisbault vêm demonstrando em relação ao histórico bairro de São Cristóvão, bem que poderia ser estendida também a Santa Cruz, região outrora prestigiada por grandes propriedades, em razão da localização do Palácio Imperial.

Será preciso, no entanto, que a Fundação Parques e Jardins, seguindo exemplo da sua congênere parisiense, e de outras fundações existentes nos demais países que ainda preservam exemplares da fonte Wallace, promova a revitalização da Praça Dom Romualdo, onde se encontra instalada a fonte de Santa Cruz.

Está faltando jorrar água na fonte de Santa Cruz, para que o projeto artístico de Lebourg, readquiria o seu aspecto majestoso, e os ideais de Richard Wallace possam ser perpetuados de forma plena.

Sinvaldo do Nascimento Souza

Presidente da AAPJ

Associação dos Amigos da Ponte dos Jesuítas